26.8.09

Amado


Por que eu me permito
ser o tudo e o nada que me corrompem?

Por que meu pensamento insiste sempre em estar contigo?

Por que essa urgência em te ferir não se escoa
Quando tudo eu daria para te encher de risos?

Tem certas coisas que eu não deveria dizer,
mas você sempre estará comigo,
Na alma,
Pensamento
E nos meus silêncios...

21.8.09

Silêncios


Aos silêncios que
Não aguardam respostas,
Mesmo que em nós pulse
Com fervor inviolável,
O desejo de tornar
Esse estado mudo em festa,

Incluem-se:

Crepúsculos marejados,
Noites de festas,
Manhãs povoadas,
Tardes de preguiça
Poentes solitários..

Aos silêncios que
Deixam rastros de folhas outonais
E alguns cheiros
Que nos remetem a começos,

incluem-se:
Manhãs,
Infância,
Café recém coado,
Primavera,
Pão saindo do forno,
Cantigas de roda,
Laço de fita nos cabelos,
Primeiro beijo,
Primeiro amor,
Frio no estômago,
Primeira dor,
Banho de cachoeira...

Tudo mais o esquecimento perde,
A memória transforma
E ficam os silêncios
Das Lembranças,
Das saudades...

20.8.09

Ânsia


Meu amor tem fome e sede,
Não esqueço e te espero.

Beijar como amada
E ainda que não me conheças
Por horas a fio me habitas.

E estou eu dada...

Quero tremer, descobrir.
Caminhar, estremecer.
Te conduzir ao meu jardim.
Quero te navegar todo,
De norte a sul.

Hoje mais do que ontem,
Amanhã e sempre.

Ainda Bem!

Inventar desculpas
que justifiquem separações
não desejadas.
Ter algum conforto ilusório
anestesiando o desejo,
criando a sensação de que
tudo vai passar
e o alivio será imediato.

Dar ao espirito
a falsa impressão
de que não é comodismo,
apenas uma perda a superar,
como se perdas fizessem parte
de um cotidiano em que
perder-se a si mesmo
é um ato consentido e assentido
sem espantos.

Não!
Eu digo NÃO.
Não me permito mais
viver assim.

Ainda bem!

Mudar



Fui o sabor adivinhado
e nunca provado,

Foste a mão que
acalentava sonhos
porque sonhar não implicava
em mudar a ordem das coisas

Fui o abraço prometido
e nunca sentido,

Foste o verso e a prosa
de palavras soltas ao léu
que calavam mais do que falavam,
acorrentadas em si mesmas
e sempre entendidas.

E assim sempre será,
no dia depois de amanhã,
uma porta se fecha
para que outra se abra...

11.8.09

Maior

Vi em ti o sofrimento
que não era meu,
Não era a mulher
que escolheste para ser tua,
mas fui a que melhor te olhou
com olhos de ver.

Vi até o que não sabias
existir para ser visto,

Vi o amante desejoso
de se embriagar em ilusões,
o homem que não adivinhava
os silêncios que eram preservados
para manter o mundo do lado de fora
e o faz-de-conta vivido
sem os questionamentos
das pessoas normais.

Vi promessas não cumpridas;
as que me fizeram e
tão pouco as de que me pediram contas.

Maior amor não vi,
vivi...

Ausente de mim


Eu me conto
através das minhas idéias
sem seqüência lógica.

A vida segue
por alguns ângulos
coexistindo em substância,
sono sem sonhos
onde povoam os pesadelos.

Olho através
de vidros coloridos
e me vejo em preto e branco,
estranha,
ausente de mim,
longe de ti.

Sigo sem substantivos
escritos em maiúsculas,
sorrateiramente ancorada
em abismos de silêncios...

Onde estiveres



Deixa que eu seja
a liberdade tardia,
a luz do teu refúgio
onde nenhuma paz
traz o alento desejado.

Uma palavra tua
e te seguirei
sem questionamentos,
mansa e cordata

Antes é necessário
que eu me afaste
da tua solidão voluntária.

Sossega,
um dia eu volto
para ficar onde estiveres...

Imagem: Katarzyna Widmanka

A geografia do corpo


A geografia do corpo
É insólita e semelhante
a uma árvore.

Raiz bem fincada no chão,
tronco firme,
ramos abertos
na espera de um abraço,
corpo sorrindo para a vida
que se entrega à vida.

Na vida,
o corpo e a alma
se orientam para o céu
presos à terra,
mas só as árvores
morrem em pé.

A alma sobe ao céu
(ou desce ao inferno)
e o corpo alimenta
os profundos da terra.

Ilustração: Rafael Nobre

9.8.09

Prelúdio



Teu pensamento
É o primeiro que
Chega com o dia
Sinto tua falta
Seja apenas,
O que se oferta
Pois tua história eu não sei

A lua, a mesma lua,
Que ilumina o estares só como eu,
É sempre nossa companheira de todas as horas
Então escuta os silêncios da noite,
Fecha os olhos e deixa teu pensamento voar...



Vou te contar um segredo:
Hoje estiveste comigo:
Nos meus sorrisos,
No meu sonho,
No meu desejo...


Nua


Um ser que espreita,
Tudo observa e se guarda
Levantando barreiras e
Mantendo afastadas
Todas as luzes...

Um enganoso alguém
Vagando na noite,
Áspera e funda.

Face oculta da lua,
Fragmentos, espasmos e sussurros.

Não desaguar em águas calmas?
Devo soltar as amarras e ao vento me lançar?
Devo desnudar minhas pernas e poesia?

6.8.09

Anjos


Um anjo para debruçar e calar,
Observar movimentos como
Quem cisma
Um anjo para quebrar amarras,
Bradar os silêncios do viver
Um anjo para aliviar dores,
Soprar o dodói
Um anjo para contar segredos
Que não se perturbam em explicações
Um anjo para num sorriso zombeteiro,
Gritar:
-“Eu te disse! Tuas certezas de hoje não são
as mesmas de tempos atrás.
Então vai que a entrega te espera!”

É muito claro,
O amor veio para ficar
Onde represado estava,
E o que está além,
Os anjos não contam a ninguém...

A Mais Nínguem

A cidade se acalma
Meu corpo não pertence
A mais ninguém

A noite chega
Meus sorrisos não são
Pra mais ninguém

Peço baixinho para
Um anjo que passa
Levar meu pensamento
Meu lamento
Minha canção
E as minhas orações
Que não são
Pra mais ninguém

Voa no vento e entrega
Meus sonhos ao meu amor
E a mais ninguém

12 anos atrás..)

Escrevi esse texto há anos atrás, ia para o lixo não fosse a leitura mais atenta. O que mudou de lá para cá? A resposta fica para o final....