29.6.09

Fica o Beijo



Sentiu o silêncio
Desta noite?
É o silêncio
Que me habitava
Antes de te encontar.

Mas tu não soubeste
Escutar os sons
Desse silêncio tênue.

Se sentires falta
De tudo que fomos
Volte.

Há que acreditar
Sem reservas,
Dúvidas,
Ou dedos apontados.

Então se há coragem
Entre e vá com ele.

Faça dele palavras
De sentimento.

Não lute mais,
Seja o pão que alimenta
E eu a água de matar a sede.

Hoje não estarei contigo
Pois volto aos meus silêncios,
Onde eu era possível
Antes de te encontrar

Fica o beijo...

Não Saber


Pior que não saber,
É saber, mas não ter a certeza.
Como acreditar nas palavras
Que voam no vento e
Perdem-se pelos caminhos.

A vida guarda segredos e
O sentimento não sabe
Que linha seguir.
Eu sempre achei que sabia me cuidar,
Descobri que nada sei.

Então porque sinto tão desigual?

28.6.09

Alento


Já era madrugada
de horas perdidas,
insone como antes,
a espera da madrugada fria.

O passar do tempo,
enfatizado pelo relógio,
não oferecia sossego.

Mais um dia espreitava
e não oferecia nada de diferente.
A qualquer momento,
o sol, com sua presença delatora,
despontaria no céu.

Adeus a mais uma noite, das tantas,
em que se perdia e errava
pelos caminhos do não-sono,
sem a preocupação com a cor que o céu
se vestia nessa madruga fria.

Pouco importava se era prosa ou verso,
avessa ou mal-passada,
errante ou lúcida do tempo.

Estava cansada do escuro,
do vazio instante,
do fundo raso
e da presença ausente.

Não era mais senhora
em seu castelo de cartas,
tão pouco da culpa que não sentia.

Enrrolou-se nos lençóis 220 fios,
voltou para o lado e adormeceu
sob a luz artificial que bailava
sobre a mesa de cabeceira.

Cultivada em cansaços,
Um livro caiu da cama
ao encontro do chão frio,
o sono lhe deu alento
para as doloridas pegadas
que ficaram pelos caminhos
do ontem que não será amanhã.

27.6.09

Desabafo NoSens(t)e

"O que eu sinto eu não ajo.
O que ajo não penso.
O que penso não sinto.
Do que sei sou ignorante.
Do que sinto não ignoro.
Não me entendo e ajo como se entendesse."


Clarice Lispector.


Eu sinto e ajo
o que sinto.
(sempre)

Não penso e ajo
por não sentir.
(as vezes)

Sou ignorante sempre,
mas nunca ignoro
o que sinto
e o que sentem.

Cansei de ignorarem
o que sinto
por ignorância
de quem só vê
o que não sente.

Ando tão cansada,
cansada,
cansada...

22.6.09

Feliz Aniversário



Ele me deu:

A vontade de enfrentar meus fantasmas,
A coragem para levantar e recomeçar
(tantas vezes...),
A calma das esperas intermináveis
O desejo de sentir com os cinco sentidos,
O pranto dos aflitos...


Ele me ensinou que:

A vida é mais que o mundo indefectível
onde eu me escondia da VIDA,

Existem portos para abrigar
as naus de poucas bandeiras
quando navegar não é preciso,

A sonhar que sonhos eram possíveis,

Os dias chuvosos tem mais cores
além do cinza,

Orgulho e amor próprio podem ser digeridos,
(um copo de água ajuda),

O papel dá vida às cartas de amor
perfumadas e desenhadas com canetas coloridas,

Os personagens eram máscaras a serem despidas
sem o medo estranho de ser imperfeita,

Engolir cobras e lagartos,

A me render,

- E eu me rendi...


Ele foi:

Riso e dor,
Desejo e pranto,
Dias de sol,
Noites de lua,
Chegadas e partidas...


Eu não dei,
não ensinei,
não fui...


Eu sou a que ama o meu amor,
de um jeito torto,
estranho
e profundo...

Feliz Aniversário Meu Amor
23 Junho 2009
às 00:01

Imagem: Via Láctea

20.6.09

Amorzinho



Tenho um amor piegas,
Melosamente guloso.
É bobinho como fotonovela,
De pegar na mão,
Escrever cartinhas de amor
Cheias de coraçõezinhos
E Água de cheiro.

Um amorzinho
De encontro marcado,
Ternurento em cor-de-rosa e azul claro.

Apenas assim,
Tão simples assim?

- Sim, apenas assim...


(jan.09)

Ata-me


Não quero a liberdade dos normais,
das pessoas corretas,
das contas pagas,
de um dia após o outro,
de uma noite tranqüila,
da mesa posta,
da cama arrumada...

Cansei;
de calar para não polemizar,
de engolir cobras e lagartos
das pessoas que varrem a sujeira
para debaixo do tapete,
das que agradecem,
das que esquecem de agradecer ...

Se me aceitas
desvairada e adversa,
meiga e contraditória,
humanamente imperfeita,
Ata-me ou me esquece...

16.6.09

Seguir


Eu já fiz muitas viagens, para o exterior e até mesmo para algum interior do meu eu, e no meio de algumas dessas viagens, acontecia alguma coisa e eu me perdia.

- E agora? O que vou fazer?

Foram perguntas que nunca fiz e continuava caminhando. Muitas vezes eram caminhos sem sinalização relativa a segurança ou objetivo a ser alcançado.
A maioria das vezes minhas viagens não dependiam de objetivos a serem alcançados.
Eu apenas seguia ou não.

Não sei onde li um trecho de Ellen White que dizia mais ou menos: "a senda por onde Deus guia, pode estender-se através do deserto ou do mar, mas é um caminho seguro".
Nunca pensei na segurança, imprevistos, dificuldades ou tropeços dos meus caminhos.

Nunca temi por eles, nunca almejei encontrar "lugares" onde não houvessem prantos ou dor, dificuldades ou segurança. Nunca me importei se eles seriam caminhos de salvação que me levariam a lugares de paz e tranquilidade.

A única coisa nesse seguir que sempre me afligiu foi o parar por muito tempo. Talvez porque eu tenha essa necessidade "irascibile" de seguir caminhando.

Enquanto houverem rotas, trilhas e caminhos a percorrer eu sigo. Uns dias mais feliz, outros nem tanto. Alguns tons melancólicos permeando meus vãos, saudades de quem fui, das pessoas que foram, mãos que afagam e palavras que me acolhem.

E finalmente eu aceite a minha natureza tempestiva e anárquica que me traz sempre em destemperos demais e calmarias de menos. Ando sedenta de sossego, mesmo que seja temporário já que sou tão estranha até para mim mesma.

No momento quero o sono profundo, me recolher ao meu casulo e deixar que a mariposa possa se formar e voltar a vida.


Ps. Algumas pessoas só têm olhos para borboletas e até fazem muxoxos de desdém para as mariposas. Eu adoro mariposas e quando os pés de maracujá estão no explendor das ramificações, meu quintal fica em festa com o vôo das mariposas que ali habitam. Uma festa para o espirito.

A imagem é de uma mariposa luna (inesquecível). Ela é de um verde belíssimo, com manchas em forma de lua nas quatros asas, daí o seu nome. As asas inferiores são alongadas para trás formando dois delicados rabos de andorinha.

13.6.09

Despedida


Foto: Manus

Desculpe-me se trago a alma sem alento,
Se tenho cansaços,
Se me tornei escrava desse sentimento vazio,
Se meu vôo é de asas partidas,
Se meu coração sangra,
Se não sei o caminho,
Se um segundo é muito tempo,
Se as horas me sufocam,
Se o não saber me conforta,
Se tudo em mim é indivisível,
Se não posso ser as mãos que consolam,
Se ninguém, nem eu mesma,
Entendo o que sustenta esse vicio de ti,
Porque vou embora
Quando são momentos de chegadas
E se quero sempre ficar
Quando o momento é de despedida.

Melhor seguir, ficar é se iludir.

Não te despedi de mim,
Eu me despi para ti,
Mas não foste capaz de me ver.

Então me despedi de ti
Pois há muito não habitava
Teu coração.

Palavra dança,
Segue em frente
Porque a vida é plural,
Contraditória,
Controversa e muito mais...

Ouvindo: Mar E Lua e Mar Y Luna



12.6.09

Um dia, a poesia se perdeu...


A luz que brilha pode apenas,
E apenas, ser imaginada.
Os meus olhos se voltam
Para essa luz imaginária.

Luz que se esconde entre sombras.
Sombras que vem e vão,
Caem como véu sobre a vida.

E o tempo quer vida.
A poesia anda perdida,
Num canto, pedindo versos.
Querendo apenas que as rimas,
Exatas ou inexatas,
Não fiquem do lado de fora.

A poesia te espera,
O tempo quer viver e
A poesia quer voltar à vida

Viagem

Emaranhados um no outro
pernas e braços entrelaçados,
encontramos um no outro
uma forma imediata
de partirmos juntos.

O destino não importava.

Qualquer partida,
de uma zona erógena a outra,
alimentava o desejo
de um pelo outro.

Desejo inominável
de sorver e absorver.

Possuir cada detalhe com prazer,
em qualquer parte que nossos corpos
se tocassem.

A maneira como nos atracamos
ao final da nossa viagem:
sem bussola ou carta de navegação,
não era feita de cansaços,
mas da certeza de viajar pelo corpo,
um do outro,
como Vasco Gama de nós dois.

3.6.09

Bem Devagar


Anotações rasgadas,
Fragmentos perdidos
Por estarem guardados
No lugar esquecido.

Eu sigo bem devagar
Alinhavando, sempre,
Vazios que não se esgotam,
Sentimentos que ruminam,
Espantos que não me alcançam
Silêncios estigmatizados,
Muitas cismas de tudo e de nada,
Sempre demais e nunca de menos.

Ando em meandros
Esquecida de mim,
Adejada de esperanças vãs
Que guardo nas dobras
Dos meus vãos desbotados.

Abandono

Não te abandonei
por querer.
Eu precisava fugir
antes que me arruinasses
com a tua consciência
de tudo que ilumina demais
e desnuda além e muito.

Na verdade eu te abandonei
para não ser abandonada.

Mas sinto sua falta,
e confesso que viver sem ti
é morrer todo dia um pouco...

12 anos atrás..)

Escrevi esse texto há anos atrás, ia para o lixo não fosse a leitura mais atenta. O que mudou de lá para cá? A resposta fica para o final....