28.6.10

Renda-se


Seios em alerta
Pernas em penitência
Lábios a espera
O corpo deposto em tuas mãos

Eu rendida...


Ouvindo: Ne me quite pas

Impossível não me lembrar da tua voz neste poema




Esse homem que olha
e finge não ver
sabe que sou sua,

Esse homem que me despe com os olhos,
está em mim como um espaço definido
pela tepidez de dedos
que me descobrem a pele
Lentamente...

Esse homem que cala e sente
faz meu corpo estremecer
na languidez do cio
Lentamente...

(É impossível não me lembrar da tua voz neste poema.)

Rasgo


Se não podes
Mergulhar na minha alma,
Rasga-me a roupa...

Eixo



O eixo em movimento
Urge,
Anseia,
Implora
Por alguma estática

Que as palavras façam silêncio
Nos meus silêncios

Photo by C M Wolett

Entre minhas pernas


Meus pequenos desejos:

Aprender a virar o destino,
saber dar de ombros às horas
que morrem no olhar
e fingir que não desejo mergulhar no teu
para te abocanhar pelo avesso.

Alimentar este desejo de fluir no sangue,
beber tua saliva
e misturar no teu coro

Ficar nas tuas maõs
onde eu caibo inteira:
eu inteira e tu desfeito.

Viver o tudo e o nada
te abraçando entre minhas pernas...

Depois da tempestade...

Andei justificando a ausência das palavras com a desculpa de que me faltava inspiração, na verdade o que me acontecia e acometia, era o virar as costas a elas me demorando demais pelas anti-palavras.

Minava o espirito de períodos não contínuos, num andar sem eira nem beira, em estados intermitente entre o pouco e o menos que o pouco. Esse estar não requer pensar em demasia, olhar para dentro com olhos de ver, demorar mais que uma fração de tempo para dar tempo de não querer partir; não exige mais que nada ou despende de esforços.

Caminhando e virando as costas à vontade de fazer sangrar o peito sobre a folha de papel ou teclado, cerrava as pálpebras se de madrugada os versos me assaltavam. As madrugadas eram as horas dos versos sem rimas já que os sonhos ficavam adormecidos antes de dormir e depois também.

Talvez me faltasse um destinatário, ou se confundiam os desejos quando tropeçava nos becos de duas cidades que me viviam na pele, o lugar do Eu e o Eu fora do lugar, não sei explicar, é confuso até pra mim mesma que vivo confusa e criando confusões.

Dói a ausência, toda a dor é mais intensa quando nós mesmos rasgamos a alma e se a tento aliviar com palavras, caio na armadilha da dúvida de não saber o porquê. Nas memórias que misturo, entre a verdade e o inconsciente, há espaços em branco porque me falta a certeza dos protagonistas, assim como me faltam as metáforas para contar o tudo que me aconteceu.

Sem saber como falar das tardes que começaram a cair sobre mim e que acabaram em madrugadas insones, dos abraços e beijos ao romper do dia, das canções que não foram escritas, ou de como fugir do que me persegue, vou-me escondendo da escrita e acumulando, todas manhãs, um pouco mais da certeza de que não pode ser por muito mais tempo.

Sinto que volto a desabrochar em palavras e gestos.É o resumo de como sinto o que sinto...

Por você, com quem partilho alguns dos meus excessos e que vai acalmando a fúria que ainda carrego com algumas revoltas, terei todos os fins de tarde para te falar do mundo, de dentro para fora, assim que eu saiba como o fazer.

10.6.10

Intenso

Minhas entregas descomunais
me arremetem sempre para o tudo e o nada,
em proporções exacerbadas

Não meço esforços para dar tudo e mais um pouco
porque o tudo nem sempre é o suficiente,
mas preciso ser correspondida na mesma intensidade
para continuar em frente,

Não peço nada,
Mas não aceito meios termos
quando me dão algo de si,
se ficamos pelo meio
me debato feito bicho,
depois sem nada dizer parto
para o intenso senso do nada sentir ...

Dorme meu amor


Na quietude pós-ato do amor
o corpo se aninha no imaginário
corpo do teu eu.
Sonho com tuas mãos fogo em mim,
adivinho teu cheiro macho em mim,
quero tem membro homem em mim...

Noite de amor,
dias e tardes para te amar,
Atravesso essa ponte
que me leva onde sou mais feliz.

Dorme meu amor mas não tarda
que meu corpo fêmea já arde por ti...

Contrários

Amanheci chorando
Para anoitecer sorrindo,
Adotei o impossível,
Quem não sonha com ele?

Abandonei o possível,
Quem não se fartou dele?

Nada me causava
As deliciosas palpitações
Que antecedem o desconhecido.

7.6.10

Com Você


Fazer amor com você
Em qualquer posição,
Na cama,
No chão,
Na lua,
Na rua,
No mar,
No banho,
Na intensão,
Seja como for,
Fazer amor
Tem que ser com você...

De pé,
De lado,
De 4,
Deitados,
Até de pernas pro ar,
Fazer amor com você
Até o mundo acabar...

Paz



O perfume do jardim em flor, aspiro o néctar que me toma inteira e sigo em frente deixando-me levar, fascinada, pelo jogo de adivinhações que embriaga meu bom senso.

Adiante, cortinas imaculadamente brancas, num esvoaçar despreocupado e cheio de transparência que me atrai como imã para a lua que sorri do alto de um céu que me faz girar um giro tão suave que desato a rir da minha imobilidade consciente. .
Sinto passos que se aproximam por detrás, e as batidas do meu coração começam a ficar mais fortes à medida que teu respirar se aproxima e se faz sentir em minha nuca.

Não me volto nem mesmo quando sua mão toca levemente meu ombro. Sinto o prenúncio que adivinho, estremeço.

Agora um beijo que toca minha pele e meus pêlos põem-se em alerta involuntário. Mãos me tomam pela cintura um corpo que secola ao meu, vai me levando em frente. Deixo-me tombar de joelhos no leito, cotovelos apoiados e almofadas que encaixo sob o ventre.

Sinto o repuxar dos cabelos, mãos que puxam minha cabeça para trás em arco, que se oferece sem protesto; nenhuma dor.

Não posso vê-lo colado em mim e nem me esquivo quando sua boca morde minha nuca, gemo num misto de dor cheia de pressa e prazer ávido por ser saciado. Sua língua contorna minha orelha e sinto-me desfalecer.
Esgazeada, minhas pernas submissas e escorregadias vão cedendo e o suor se misturando ao seu.

Nus e calmos, não consigo falar, a cabeça tomba em assentimento e as nádegas se empinam num render sem remissão.
Um gozo profundo, gemidos,soluços,corpos se juntando, se encontrando e se ajustando.

Meu corpo agora prossegue livre, perdido de mim, no ritmo dessa dança de horas estacionadas no tempo, e segue atracado e colado ao teu, despossuído e entregue a qualquer movimento.

Por fim a paz num grito.

12 anos atrás..)

Escrevi esse texto há anos atrás, ia para o lixo não fosse a leitura mais atenta. O que mudou de lá para cá? A resposta fica para o final....