27.12.07

Brigas


À noite, os cansaços do dia pesam,
Têm início as batalhas insanas.
Nossas dúvidas explodem,
caem pelo chão e enlouquecemos.
Palavras balbuciadas e órfãs,
Lágrimas derramadas em prantos e súplicas,
Venenos dilatando pupilas,
Um no outro como doença,
E nenhum sabe como partir.
É vício...

Escolhemos caminhos obscuros,
Rasgamos nossa carne,
Tudo se move a nossa volta
e nossos credos observam, incrédulos.
A ira quer ser resolvida,
Desafia as nossas certezas que vacilam.

O sentimento que antes era primeiro e único
Não sabe como tudo vai terminar
Talvez uma palavra mais doce gerada
Pelo medo da perda,
Uma vertigem chamando a razão,
A sanidade tentando varrer
para longe toda a loucura,
E o que sobra é esse amor
Que para sempre nos arranha a alma

Ouvindo: Sentidos
Foto: Nasa
Furacão Alma

26.12.07

Noite


Uma noite longa que
não me diz como vai
amanhecer meu dia.
Minha poesia perturbou-se,
anda em agonia de saber
que essas palavras
nada podem ou talvez
cheguem tarde.
Minha rima não tem ritmo
pois só minha tristeza
Acumula-me.
Peço-te perdão
já que mais não posso,
hoje descobri o amargo de sentir
que nada posso.
A me acompanhar
minha poesia triste,
o estado da minha alma,
meu amor não revelado,
a agonia de não saber
e a esperança,
mesmo que remota,
de que estejas como eu : aflito

Foto: Planeta Terra
Ouvindo: Diz Nos Meus Olhos

23.12.07

10


Não tenho medo
Das lágrimas que rolam em meu rosto
Sinto sim, pelas que meu coração chora,
Quando as folhas do tempo
Caírem pelos teus caminhos
Não haverá anjos tristes
Anjos caídos
Ou anjos tortos
Tudo serão rios
Onde esgotarei minhas alegrias

Não haverá canções e segredos,
Apenas um silêncio pálido e profundo
Haverá mares de solidão...

Deste porto de meus ais
Já partiram tantas naus saudades,

Outras tantas naus
Chegaram a este porto,
Naus felicidade que trouxeram alegria

Para mim,
Este porto de meus ais, é despedida...

Foto: Net
Ouvindo: Todo Amor Que Houver Nessa Vida

19.12.07

...


Sim, foi por mim que gritei.
Declamei,
Atirei frases em volta.
Cego de angústia e de revolta.


Foi em meu nome que fiz,
A carvão, a sangue, a giz,
Sátiras e epigramas nas paredes
Que não vi serem necessárias e vós vedes.


Foi quando compreendi
Que nada me dariam do infinito que pedi,
-Que ergui mais alto o meu grito
E pedi mais infinito!


Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas,
Eis a razão das épi trági-cómicas empresas
Que, sem rumo,
Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...


O que buscava
Era, como qualquer, ter o que desejava.
Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo,
Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.


Que só por me ser vedado
Sair deste meu ser formal e condenado,
Erigi contra os céus o meu imenso Engano
De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!


Senhor meu Deus em que não creio!
Nu a teus pés, abro o meu seio
Procurei fugir de mim,
Mas sei que sou meu exclusivo fim.


Sofro, assim, pelo que sou,
Sofro por este chão que aos pés se me pegou,
Sofro por não poder fugir.
Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!


Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação!
(Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...)
Senhor dá-me o poder de estar calado,
Quieto, maniatado, iluminado.


Se os gestos e as palavras que sonhei,
Nunca os usei nem usarei,
Se nada do que levo a efeito vale,
Que eu me não mova! que eu não fale!


Ah! também sei que, trabalhando só por mim,
Era por um de nós. E assim,
Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade,
Lutava um homem pela humanidade.


Mas o meu sonho megalómano é maior
Do que a própria imensa dor
De compreender como é egoísta
A minha máxima conquista...


Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros
Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros,
E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á,
E sobre mim de novo descerá...


Sim, descerá da tua mão compadecida,
Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida.
E uma terra sem flor e uma pedra sem nome
Saciarão a minha fome.


José Régio

Trilha



Uma estranha de mim mesma
Errante, errando a esmo
Trilha numa noite cheia de interrogações
Onde eu queria colher tuas exclamações

Sonhos que teço antes de dormir
na estação das folhas caídas
Fazer-se inverno presente
e voltar a vestir verde
antes que a primavera amanheça...
E a rima verão de silêncios
Anoitece mais uma vez

Nunca amar assim antes,
e agora tudo está em paz...

Ouvindo: Tudo Se Perdeu


17.12.07

Uma Sombra


Já amaste como deverias, como poderias?
Quantas vezes foste perverso,
desatento e fechado em si mesmo?

Já conheceste a solidão?

Alguma vez provaste da indiferença
que consegues distribuir tão bem?


Seja como for,
já é hora de colher o amor maduro
que partirá teu coração,

O amor que te ensinará
a compreender as dores do mundo,

Que trará o cansaço dos dias fúteis,

A insônia das noites mal dormidas
,
A consciência dos vazios abstratos,

Mas tão definitivos...


O amor virá para dar sentido a vida

Que anda repleta de abundância ilusória...

Foto: Web
Ouvindo:
Ilumina-me

4.12.07

Metade


de Oswaldo Montenegro


Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca;
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...


Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza;
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante;
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade...


Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
A um homem inundado de sentimentos;
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo...


Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada;
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão...


Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...


Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais;
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço...

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para faze-la florescer;
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção...


E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também.

9


Se um dia sentires falta do que tivemos,
Volta pra mim...

Ascende a luz
Sossega meu coração
Deixa tuas metades lá fora
Pois te quero inteiro...

Foto: metade de vida - nuno nascimento reis
Ouvindo: Nunca

2.12.07

Insuportável


Outra vez...
preenche-me uma vaga de falta de inspiração.
Tento escrever mas,
por muito que esforce o pensamento ele teima em permanecer atrofiado.
Talvez precise de solidão, só assim me conseguiria concentrar.
Mas as minhas veias clamam por ti...
o meu sangue evapora-se no teu.
Os meus lençóis sussurram o teu nome constantemente durante o meu sono.
O teu cheiro sufoca-me sensualmente.
Agora estar sózinho é mesmo estar sózinho...
e já nem isso suporto com o ânimo de outros tempos.
Ao menos eu fosse poeta, porque poeta é aquele que se consegue dividir para nunca sózinho estar.

Foto: Folhas... leva-as o vento! - Sérgio Fernandes

12 anos atrás..)

Escrevi esse texto há anos atrás, ia para o lixo não fosse a leitura mais atenta. O que mudou de lá para cá? A resposta fica para o final....