13.6.22

12 anos atrás..)

Escrevi esse texto há anos atrás, ia para o lixo não fosse a leitura mais atenta. O que mudou de lá para cá? A resposta fica para o final... 

A noite está um pouco mais fresca do que o costume, e mesmo assim o sono não chega. Nem mesmo a leitura me faz relaxar como de costume. Tenho noites assim, acabo por adormecer nas horas da cotovia, e depois acordar quando a manhã chega a pino. 

Lá fora, apesar do breu, não se podem ver as estrelas, as luzes que velam as noites desta cidade não nos permitem ver estrelas, é um preço que paga quem precisa viver neste caos tão cotidiano e aquiescente. 

Os sons desta noite são velhos conhecidos: os motores dos carros numa avenida bastante movimentada e um tanto próxima, um avião que passa ao longe e se faz ouvir, mas os barulhos mais próximos são o ressonar do meu cachorro dormindo no quintal junto à janela deste quarto e o motorzinho no peito da Lola, que dorme aos meus pés, até ela se dar conta de que foi expulsa de cima do meu peito, claro! 

Já que nada me faz dormir, tomo um lápis e umas aparas de papel que mantenho na papeleira que faz as vezes de mesa de cabeceira e começo a escrever. Penso em algumas pessoas e prefiro acreditar que o mal não está do outro lado em um inimigo invisível, mas em mim. Respira, move-se, dorme e acorda comigo e por isso não posso atirar-lhe pedras. No mais, continuo tentando entender e me relacionar com a complexidade das pessoas e não com seu caráter, quanto mais tento, mais acabo por me isolar e assim sigo sendo uma ilha que se abre um pouco para os filhos e pais. 

Há muito tempo decidi atravessar as trevas do meu coração para assim, quem sabe, conseguir mudar alguma coisa de dentro pra fora e talvez um dia eu chegue a conseguir mudar alguma coisa a minha volta, é difícil e sempre me pergunto se vale o esforço "destruir os esquemas de ontem, deixar de dizer não posso, quando pode. Não sou, quando é” – Rabbi Nachman di Brasiav. 

O que mudou: O Frodo não cochila mais debaixo da janela do meu quarto, a Lola não tenta puxar meu rosto com a pata quando finjo não lhe dar atenção, moro num nono andar e sinto saudades dos meus queridos. Muitas saudades mesmo, não posso ter um Frodo, seria ele ou nós dentro deste ovo, mas uma Lola... 

Tenho pensado muito nisso. Beijos


Post Iscriptum:

Encontrei alguns rascunhos que cheguei a rabiscar há 12 anos atras quando mudei de casa, de estado civil e condição econômica. Costumo dizer que estava na fase de arregaçar as mangas e começar a galgar a subida para fora do poço em que estava atolada.

Logo depois a Fernanda, ao se despedir de uma visita de domingo, me ligou para avisar que alguém no condomínio anunciou uma ninhada de gatinhos para adoção.

Nesse mesmo dia eu descia no elevador do 16º andar para o 9º andar, onde morava, com a Penélope enrolada numa coberta.

Essa é outra história...     

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Escrevi esse texto há anos atrás, ia para o lixo não fosse a leitura mais atenta. O que mudou de lá para cá? A resposta fica para o final....