28.5.08

Amantes



O botão da manhã
Entardeceu rosa perfumada
Que a noite despiu
Para ser rosa desfolhada
Vencidos pelo tempo,
Num abraço de amantes
Rosa e espinho
Secam lentamente...

Imagem:
Alberto Viana d'Almeida

O Último Voo do Flamingo

Talvez porque ande como o leito de um rio, onde o verão castiga e suga para si todo sopro de vida e pensar que ainda é Outono, as águas de março acabaram de fechar o verão.

Que me desculpe Tom Jobim, pois neste caso não acredito em promessas, prefiro a certeza de que os rios talvez não tenham datas certas para secar ou abundar, pulsar ou apenas fluir...

prof
"Há aqueles que nascem com defeito. Eu nasci por defeito. Explico: no meu parto não me extraíram todo, por inteiro. Parte de mim ficou lá, grudada nas entranhas de minha mãe. Tanto isso aconteceu que ela não me alcançava ver: olhava e não me enxergava. Essa parte de mim que estava nela me roubava de sua visão. Ela não se conformava:
- Sou cega de si, mas hei-de encontrar modos de lhe ver!
A vida é assim: peixe vivo, mas só vive no correr da água. Quem quer prender esse peixe tem que o matar. Só assim o possui em mão. Falo de tempo, falo de água. Os filhos se parecem com água andante, o irrecuperável curso do tempo. Um rio tem data de nascimento?"

O Último Voo do Flamingo - Mia Couto

23.5.08

Imaginário


Olhar que não me aquece,
Asas que não se estendem
Num abraço imaginado,

Voz que preenche toda a minha alma...

E o sorriso?
Não sei,
mas deve ser como um dia ensolarado...

Imagem: Floriano Peixoto
Ouvindo:
Smile
Madeleine Peiroux

21.5.08

Minhas Linhas


Extrovertida por herança genética. Desconfiada e orgulhosa por autodefesa. Sonhadora e alegre por natureza. Melancólica por tendência. Independente por sobrevivência. Contraditória o tempo todo.

Prisioneira de minha própria ânsia de liberdade,
escrevo compulsivamente sobre o que sinto, mas tenho sérias travas para falar sobre isso pessoalmente e principalmente sobre meus sentimentos, reflexo de anos de reclusão em mim mesma, não sei. Mas estou tentando exercitar mais o verbo falar e pedir (colo). Sou de poucos amigos, muitos colegas e bastantes conhecidos. Péssima em brigas verbais, passo dos limites, sempre.

Não sou rancorosa, ao menos isso...


Prefiro a noite ao dia, o inverno ao verão, o anonimato à fama, a solidão às más companhias, o silêncio, sempre meu companheiro. Mas tenho que confessar: quando faço barulho consigo ser muiiiito ruidosa.


Adoro animais, em especial os gatos. Tudo bem, meu labrador é a excessão do mundo canideo e batizaram o lindão de Frodo por causa do Senhor dos Anéis, eu o chamo de Meu Tesouro, combina melhor com o belezão.


Tenho medo de cobra e pavor de barata, com o restante da fauna urbana até que tenho um convivio relativamente pacifico.


Adoro tomar banho de chuva no mar, na rua, e onde mais ela me pegar. Gosto de sentir o vento no rosto, observar tempestades e sonho morar ao pé de uma montanha com muito espaço para plantas, animais e onde os filhos possam vir visitar no fim de semana para aliviar a cabeça do caos urbano.

Tagarelo muito quando descanço dos meus silêncios, falo sozinha enquanto estou trabalhando, converso com plantas e animais mais do que com as pessoas, mas me esforço para melhorar. Mordo os lábios e levanto a sombrancelha quando consigo refrear alguma censura a tempo, o que é de grande esforço.

Adoro abraçar como quem quer envolver o outro por inteiro. Não tenho medo de tocar as pessoas e acarinhar meus amigos. Costumo ser muito intensa quanto a tudo que sinto e algumas vezes tenho medo disso, quando estou tempestiva não alcanço a tranqüilidade de que os outros necessitam para permanecerem ao meu lado. A sorte é que tais tempestades são de verão, passam rápido.


Detesto carnaval, muita gente. Sempre fui adepta a boa música e alguns livros sobre a mesa de cabeceira, que no caso é a mesma papeleira que ganhei quando fiz 15 anos. Falando nisso, tenho paixão por móveis antigos e misturar estilos.

Detesto mulher cheia de frescura. Não dependo de homem para trocar pneu. Mas não dispenso uma ajuda. Não sou feminista.
Gosto de homens afetuosos, mas firmes.

Profundamente tímida, o que me encanta é sempre o olhar...


O príncipe encantado não existe, prefiro os sapos.


Quanto às pessoas, tenho minhas referências: que não queiram ser minhas protetoras, nem minhas protegidas, mas companheiras. Que queiram dividir uma vida comigo sem meias verdades.


Sou louca por criança e me emociono muito com idosos...


Respeito sentimentos.RESPEITO, isso não quer dizer que concordo sempre. Sentimento e razão não caminham juntos, não se explica, se sente. Meu maior defeito é não saber ajudar sem se envolver. É sempre se colocar no lugar do outro para enterder suas ações e tentar justificar alguma atitude que tenha me magoado. Eu realmente preciso me machucar várias vezes para enxergar que alguém me magoa consciente. Mais que o motivo da mágoa, me machuca saber que foi propositadamente. Mas estou tentando mudar isso.


Acredito em Deus e tenho fé, do meu jeito, por isso ainda tento acreditar no ser humano...

Dizer-Te



Escrevo muito e às vezes acho que não disse tudo.
Tagarela ao falar por vezes me falta paciência para escutar.
Nem sempre sei a hora de calar,

E muitas outras calo ou falo o que não devia.

Quando as palavras não se completam

Ou não me satisfazem,
Sinto o chão fugir.
Perco o sul e o norte,

Mas ao me embriagar de tuas palavras,

Perco-me das minhas.
E meu corpo e a minha alma
Se sentem repousar sobre lençóis

Descansados e em paz...

(Fala-me de Amor)

Foto: Web
Ouvindo:
Muito amor

16.5.08

Canção de Morpheu




Há uma brisa que me roça o pescoço
Nesta noite cheia de cansaços

Um roçar doce perfumado

Solto pelas palavras que meus olhos ouvem

Quando sentado diante desta tela fria

Transporto-me até ti

O beijo que te mando

Não cabe aqui, vai com o vento

Desejo-te, agarra-me

A culpa será minha

Estou aquém e além

Quero tudo como queres

A culpa é minha

As almas não se tocam

Fundem-se,

Explodem e enchem as trevas de luz

E é disso que és culpada

Os relâmpagos, rasgam os céus

E dão-me razões

As estrelas uniram-se

Ciumentas da tua voz

Não crie duvidas

Ajude-me a encontrar a certeza

Que está perdida em mim

Mas ela existe...

poema a dois...

14.5.08

Poema


O verso pede descanso
As palavras, antes em ebulição,
Arrefeceram

O verso pede um tempo,
Não há rima,
Não há inspiração,
Não existem caminhos
Por onde se deleitar,
Não se traveste mais da dor,
Essa insensata doidivanas,
Tão pouco é fogo da paixão,
Essa chama de arder perene
E cegueira permanente.

O verso fecha os olhos,
Sorri,
Vira para o lado,
Dorme em paz.
Sem desculpas estilizadas
De ter que ser poema.

7.5.08

Longe ou Perto



tigres2.jpg

“tu
olhas ora para mim
ora para as nuvens



sinto que
estás tão longe quando olhas para mim
e tão perto quando olhas para as nuvens”



*Gu Cheng (1956-1993), poeta chinês em Longe ou Perto, do livro Um Barco Remenda o Mar.

12 anos atrás..)

Escrevi esse texto há anos atrás, ia para o lixo não fosse a leitura mais atenta. O que mudou de lá para cá? A resposta fica para o final....