30.9.08

Nuno Júdice






Imagem de F.Koroleva



De onde vem – a voz que
nos rasgou por dentro, que
trouxe consigo a chuva negra
do outono, que fugiu por
entre névoas e campos
devorados pela erva?

Esteve aqui – aqui dentro
de nós, como se sempre aqui
tivesse estado; e não a
ouvimos, como se não nos
falasse desde sempre,
aqui, dentro de nós.

E agora que a queremos ouvir,
como se a tivéssemos re-
conhecido outrora, onde está? A voz
que dança de noite, no Inverno,
sem luz nem eco, enquanto
segura pela mão o fio
obscuro do horizonte.

Diz: “ Não chores o que te espera,
nem desças já pela margem
do rio derradeiro. Respira,
numa breve inspiração, o cheiro
da resina, nos bosques, e
o sopro húmido dos versos.”

Como se a ouvíssemos.


Nuno Júdice in "Meditação sobre Ruínas" pág.87/88

27.9.08

A Lua Que Mingua


Como ela, eu me sinto minguando.
Ventos invernais se abatendo sobre o mar,
Meu chão é a areia fina que corre sob meus pés,
O que vem de longe não compreende que quero partir
Quero estar só,
Causar dor
Causar indiferença
Quero esquecimento
Quero estar comigo
Quero afastamentos...

Não quero responder pelos meus atos,
E se no percurso acontecerem recaídas
Arrependimentos,
Ajuda-me a voltar à minha solidão,
Sou ré confessa dela
Sou a única possível em mim mesma.

Assim


Talvez eu vá passar a vida a limpo,
Dar uma olhada no espelho.

Ver o que há dentro de mim

Como anda minha alma,

Saber dos meus sentimentos.

Olhar para o meu coração...

Retirar dele tudo que me fez mal:

O amor que não veio,

A mágoa de uma amizade traída.

Aquela discussão com uma pessoa querida.

Quem sabe eu não vá enchê-lo

Com algumas saudades,

Com a pessoa amada,

Com o melhor amigo,

Com os amores de quem nunca me abandona,

Mesmo quando não me entende.

E com o coração mais leve,

Vou tentar lembrar dos meus últimos pensamentos:

Reclamações por causa do calor, da chuva, do trabalho,

Da casa, do trânsito...

Assim com o coração mais leve

Meus rascunhos sejam muito mais fáceis de entender

E as reclamações?

Palavras à toa que passam ao lado...

25.9.08

Felizes Juntos





Gosto de pensar que as histórias
que tive com as pessoas a quem amei
foram nossas.

Fossem histórias de dor e desencontros,
De amor arrebatado,
Louco,
Alucinado,
Inconseqüente.

Amor indivisível,
Breve,
Fugaz,
Risível
Tanto faz.
A memória do coração
Sempre permanece...

Eu não sei nada de nada,
Mas sei que quando sinto,
Porque sinto de forma intensa,
Exagerada na alegria
Quanto na dor.

Um seguir que revigora,
Dilacera,
Apaga e ilumina.

É como se eu fosse feita de sons,
Silêncios,
Vida e morte,
Vazios profanos,
Amplitudes ternas e doces
Com mansidões que não se perturbam.
É isso que levamos e nunca esquecemos.

Não importa se fica um sabor de saudade
Do que nunca tivemos,
Ou a e alegria de poder seguir em frente
Quando as tempestades passam,
Guardando o que nos fez feliz ou não,
Mas sempre algo para se guardar.

Então,
Não vamos ser de uma rebeldia teimosa,
Um orgulho cheio de melindres
Porque esses sempre nos farão sofrer.
Vamos viver nossas escolhas plenamente,
Sem arrependimentos,
Sem mágoas
Ou dedos de inquisidores.

Não importa,
Nada importa se não for para vivê-las
Como se fossem as últimas,
Únicas,
Atropelando sem voltas.

Vai passar?
As vezes não passa nunca,
Não importa...

Imagem: apintogs pinto - Paralelas
Ouvindo: Belchior E Erasmo Carlos Paralelas

Aqui, Ali, Em qualquer Lugar




Relampiando
Ou
Boreal
Tanto faz..

São forças
Que não se controlam
Sou Eu
É Você
Num Talvez
Por mérito
Ou
Acaso
Talvez

Sem vírgulas
Acentos
Retrospectos
Passado
Agora
Amanhã
Tanto Faz

Um emaranhado
de lobos
Palavras
Acidentes de Percurso
Olhar Oculto
Mãos de Afagar
Quimeras
Talvez...

O som do riso abafado
Que flui como um rio
Só doçura
Sonho
Rotina
Aqui
Ali
Tanto Faz...

Em qualquer lugar
Ponto final

21.9.08

Dor



Quando aprendermos a entender
O que ambos calamos,
Como foi o antes
Nunca mais seremos diferentes.

Vamos acontecer num sono sossegado,
Morrer de amor contrariado e
Despir-nos de tudo a nossa volta.

É do ser humano disfarçar o que ama
Como se isso fosse possível, e talvez,
Protegê-lo das dores do mundo
Fome de amor e dessa fome a dor.

Lúcida colheita em tempo certo,
Caminhos tortuosos a percorrer,
Feridas cicatrizadas dando lugar
Aos sofrimentos inevitáveis,
Causar um mal necessário
Para poder ser amor verdadeiro.

Imagem:
Web
Ouvindo: O Que Você Faria

20.9.08

Confissão


Não te procurava,
Aqui te encontrei.

Quem era distante

E agora tão perto se encontra de mim?


Vieste arrematar um verso de amor,

Colher um segredo que agora sorri,

Arrancar confissões da alma

Que me levava adormecida em total recolhimento.


Quem é você
Que mesmo distante,

Tão perto de mim?


Ouvindo: Quantas Vidas Você Tem

Imagem:
Web

17.9.08

Resposta: Um Beijo


Um Beijo
da bruxa,
do gato da bruxa,
do sorriso nem sempre perene
de gargalhada fácil
mas sempre presente ainda que acanhado.

Um Beijo
dos planetas que andei alinhando,
das plantinhas, que,
mesmo estando ausente
seguiram o curso da vida,

das palavras que não alinhavei
por completa preguiça,
dos pensamentos que deixei guardados
porque a cabeça precisava "esticar" em ondas
de total abandono ao não pensar,

da palheta de cores
que adotei para colorir
o que antes me parecia tão desbotado,

do infinito ir e vir,
do ser e estar
mesmo quando a vontade é alçar vôos imaginários,
sonhar com as asas possiveis
das pequenas coisas que nos fazem sorrir

Um beijo e até um dia desses...

3.9.08

Vou atrás do meu Silêncio



O chinês Lao-Tzu filosofou no século 2:“Palavras em demasia se esgotam. Melhor é guardar o que está no coração”. Tamanha sabedoria, entretanto, parece ter perdido um pouco de seu sentido para nós, ocidentais. Desaprendemos o valor do silêncio e fazemos de tudo para preenchê-lo – nem que seja com discursos vazios.Ter discernimento ao falar e aprender a calar são,mais que uma meta, um caminho para a paz interior.

A beleza de uma paisagem tem o poder de nos calar. Enlevados pela visão da mata, do mar ou do horizonte aberto, não há a necessidade de dizer nada. O peito desaperta, o espírito se apazigua, e vem a sensação de estarmos totalmente vivos nesse instante.

É para lá que eu vou, dar um tempo no dia-a-dia da situação oposta. Onde uma massa de ruídos, produzidos por obras, automóveis, gente, me engole sem mastigar e traz para dentro de mim a agitação externa, que se traduz em ansiedade e angústia.

A mesma que devolvo para o exterior falando, falando e falando até mesmo sem pensar. Talvez por isso sou a metade daquilo que fui, a falsa impressão do dobro que sou e o complemento daquilo que serei. Ou seja, sou o nada e sou tudo, aquilo que restou de mim, a minha melhor e pior porção.

Lembrando Yogananda, só é possível conseguir paz de espírito quando se cria, dentro de si, um santuário de silêncio, livre de aflições, desejos e ressentimentos. “Nesse refúgio de paz, Deus lhe visitará”, foram suas palavras.

A verborragia é vazia, e o silêncio, repleto de emoção e significados

Até daqui uns dias...

2.9.08

Tatuagem



Estrela de Magalhães,
Luis

Rubídea
Eixo precioso,

Mimosa
Fe,

Pálida
Gui,

Intrometida ou Epsilon
Talvez seja eu cumprindo
A função de unir essas estrelas
Por linhas imaginárias
Tão próximas,
Iguais
A olho nu,
Diferentes
Em sua individualidade...

O Oriente
Do meu sol Nascente,
Seres que me orientam
Nas minhas noites de breu
E iluminam o céu da minha existência.

Meu porto seguro,
Minha única direção sem contestações,
Desenganos,
Tristezas não vencidas...

O Cruzeiro do Sul tatuado
Na pele,
Os filhos gravados
Na alma...

(Minha última tatuagem é o cruzeiro do sul e dei o nome dos meus queridos às estrelas dessa constelação)

1.9.08

É tarde, É tarde, É muito tarde



.. o coelho de Alice atravessa o quarto apressado... (a vida é tão rara)... pula na cama, pergunta sem fôlego: como faço para chegar à Escandinávia... e eu penso em fim do mundo, em perdição. É fácil... siga essa rua, depois vire à esquerda. A Escandinávia fica na esquina, perto de uma livraria pequena, quase-de-brinquedo. Ele não escuta, não vê, não percebe. Fixa o relógio que carrega nas mãos e dispara: é tarde, é tarde. (Lewis Carrol - Alice no Pais das Maravilhas)

12 anos atrás..)

Escrevi esse texto há anos atrás, ia para o lixo não fosse a leitura mais atenta. O que mudou de lá para cá? A resposta fica para o final....