24.2.09

Tempo de dar um Tempo por causa do "Temporal"


Por motivos puramente "técnicos", aproveito esse afastamento
para me dedicar ao papel e à pena. Ou de forma menos poética,
aos meus cadernos onde rascunho à lápis tudo que publico aqui.
Mantenho cadernos, agendas antigas ou blocos de notas sempre
à mão por onde ando. Sempre que algo que me acumula têm a
necessidade de ser anotada, nunca perco o "fio do pensamento",
o versinho piegas e assim tranformo (tento) em poesia.

Algumas circunstâncias que envolvem a natureza e suas intempéries
me obrigam a estar afastada dos espaços onde compartilho os
meus estados de "encontro" ou "desencontro".
Alguma pena, mas nada que eu não seja capaz de suportar,
pois é no papel que eu sinto as palavras. E preciso sempre
senti-las.
Com açucar e com afeto...

Confissão


Queria não ter que mentir.

Sou culpada pelas mentiras
Que sou obrigada a dar.
Não as nego, foram muitas.

Fui condenada por cada uma delas
E serei julgada também
Pelas que ainda hei de dar,
Se não as dei foi por falta de oportunidade.

O que queria mesmo era não
Ter de mentir para mim mesma.
Para essas não existem contas a pagar,
Condenações que bastem
Ou sentenças que as redimam.

- E o que me resta:

A culpa é inerente as pessoas
Que trazem arrependimentos.
A minha natureza não carrega culpas
Porque não se arrepende,
Nem mesmo pelas que nego.

Prefiro sangrar,
Morrer aos poucos...

A condenação é o
Cumprir da sentença
Não importa quantos arrependimentos,
Admitidos ou não,
Nos pesem no coração.

- E o que me resta:

Seguir pela vida
Com algumas culpas
Tatuadas na alma
E o coração esmagado
Pelos arrependimentos
Que sempre nego.

A lição necessária e urgente
É o dever de não ter
Que mentir para mim mesma.


20.2.09

Fragmentos Sibilados


Transito entre a mutação
Do nomadismo sentimental,

Entre a poética e a agonia
Da consciência e a existência

Não desejo existir,
Quero viver.

Existir me anula,
Viver dói, sente-se

A consciência mutila
Então prefiro a loucura.
Ser consciente me extenua
A loucura me esvazia.

A poética me remete a mim
E de mim quero sair,
Preciso fugir dessa que me mantém
Acorrentada ao espectro do que não fui.

Quero a poesia
Quando ela me adorna
E adula exageradamente

A agonia por vezes me consola
Mas não estou acostumada
A ser consolada
Não tenho dores a consolar,
Preciso das dores no estado bruto.

Sinto sede e fome de viver
Plena de loucura
E agonias poéticas
Bem nutridas e saciadas
Mesmo que em sentido ilusório

19.2.09

Sombras


Sombras, e a paisagem descansa
Brumas que envolvem Idéias não definidas
Sentimentos confusos.
Sem a escuridão,
A luz não despertaria ao amanhecer
As estrelas do céu
Não sorririam sem o breu a recebê-las
A lua não refletiria
A luz do sol em que se revela,
Se o firmamento não fosse vazio de luz
Seria caos e angústia

Brilha lua, sem luz própria
Brilham estrelas
Em pano de fundo sem fundo
Sombras observam a distancia
Querendo muito que
A luz se movimente, mas nada podem
Mistérios não revelados,
Cumplicidades partilhadas
À espera
Dia e noite,
Luz e escuridão
Calar mais do que falar
Sim e não
Versos e reverso
Amor presente
Cultivado em luz e sombras
Luz
Do sol razão
Da lua sem promessas
Das estrelas risonhas
Que nada sabem
Silêncios que não
Se querem entendidos
E em verso a poesia descansar
Sombras vivas ao amanhecer
De sentimentos conhecidos
Que podem ser controlados
Sombras à tarde enfraquecidas
Como lamento de amantes ausentes
Sombras resguardadas ao anoitecer
Das paixões que não podem ser vencidas

E vai ser sempre assim
Sombras revelando-se à luz
E sempre distantes
Da noite que se revela,
Confessa mas não se entrega...

O dia lúcido de sombras,
A noite quieta de luz.

Foto: Morskaya
Ouvindo:http://www.muleke-malukinho.net/nacionais/nac_f/Fernanda_Takai_-_Descansa_Coracao_(mm).mid

Palavras Silenciosas

Diga-me, pois não irei

Perguntar novamente.

Se eras tu quem despertavas

Minhas palavras

Porque elas se tornaram

Tão silenciosas

17.2.09

Fina Estampa



Camuflar sentimentos

Não é mentir.

É só fazer de conta

Que eles são nosso

Melhor espetáculo!


Foto: KONSTANTIN MILITINSKIY

Sorrateiramente


No fim, fica o nada
E na ponta,
Que deu o nó
A certeza de que
O ponto não eram pontes
E sim,
Ribanceiras...

"- Sem problema",
(como se diz na giria
para tudo que não depende de nós)

Voltamos aos becos
Onde. mesmo cansados,
Ainda é o onde nos
Mantemos seguros.

Sorrateiramente descrentes,
Porque acreditar também dói.


Foto: Oleg Birioukov

16.2.09

Veios


Alguns veios excessivos

Se entrelaçam entre

A realidade e a ilusão

A realidade tem as feições

De uma fuga paralitica

A ilusão é o salto de para quedas

Que veio com defeito de fábrica

Se uma não vai a lado algum,

A outra vai para se esborrachar

Em algum lado

7.2.09

Colombina Insone




Ela tomou fôlego,
Escrever uma carta de amor
Seria mais poético,
Lúdico
Leve,
Pessoal...

Mas mundos de mensagens rápidas
Pedem alguma distância
Apesar de aliviarem esperas
E suprirem à ansiedade da espera
Que sempre nos trazia
Presos às angústias dos “se”

Sobrou um espaço eletrônico
E palavras que precisavam fluir

Deteve o impulso, e repensou
Pela segunda vez
Na imprudência
Ou não,
Da escolha que fermentava a sua vontade.

A serenidade é uma virtude,
Que por vezes acolhe até as mentes menos sábias.
Naquele momento,
Colocou de lado sua cólera
E a amordaçou com eficácia,
Mantendo a paz quente,
Isolada das emoções
Que a impediriam de seguir adiante.

Resgatou o espírito e salvou a razão,
Seguiu em frente tecendo as palavras
Que trariam de volta a serenidade,
A liberdade,
O sono possível,
Cortou as amarras invisíveis
Que a mantinham cativa
De uma fantasia de Colombina insone

Adeus


Saudade não pode,
Nem deve,
Ser traduzida como nostalgia.

Essa implica conforto,
Saudade é sentimento
Golpeado por ventos demais
Para ser nostálgica.

Saudade pode ser
O sentimento de fúria
Quando se ouve a palavra
ADEUS
Com calma além da conta,
Do esperado,
Do desejado,
Do necessário...

Que seja então
ADEUS
Por já ser saudade anunciada...

Tela: Cristina Ruiz

5.2.09

Retorno


Meu amor por ele retorna...


Amor por suas jornadas,

Por seus cansaços suspirados

Mas de leve suportar.


Amor por suas curiosidades

Cheias de apetite sempre saciado.

Por suas triste falta de ilusões,

Pois sem ilusões ele evitou desilusões.

Ainda pulsa nele alguma vontade

De ter ilusões, mesmo que seja só vontade.


Amor pelas certezas que o cercam,

Como a de manter seu mundo imutável,

Ao menos sem grandes abalos.

Sitiado pelas cercas de sua cidadela,

E o desejo em segredo de que algo

Possa fazer seu coração bater mais acelerado.


Amor pela sua necessidade por dias de sol,

Seu apego ao mar,

O amor incondicional pelos seus.

Amor as suas palavras vadias,

Dadas a esmo até saciar sua sede

De palavras soltas,

Às quais se dedica até matar a fome,

Para depois partir

Sem o compromisso estreito de voltar.


Meu amor por ele retorna...

Amor por sua honestidade

Crua e bruta,

Mas nunca desbotada

Ou corrompida.


Meu amor por ele finda

Em nossas ausências

Sempre amadurecendo

Em sua sabedoria rústica

De quem viveu e aprendeu

Algumas lições

Sem deixar de passar

Por grandes ou pequenos sofrimentos

Cheio de gratidão pelo que recebeu e recebe

A cada dia seu de cada dia


Meu amor por ele retorna sempre,

Sem data marcada,

Sem normas estipuladas.


Meu amor por ele é livre como o vento

Que faz girar a rosa-dos-ventos.

Pulo do Gato


Meu abraço entregue
Em teu abraço,
Eu me inventava
Para te enlouquecer
E as tuas respostas
Nunca alcançavam
As minhas perguntas


Eu, entregue estava,
Em tuas mãos
E no tempo
De quem tem pressas,
Eu bebia e escorria
Por entre os teus dedos

E tal gato,
Pulava para a noite
Seguindo por uma
Estrada de silêncios

Já não pensava mais,
Enquanto atravessava
A primeira viela,
Nos teus carinhos,
E do teu abraço
já me esquecia...

Ouvindo: Deixas Em Mim Tanto De Ti

Aquele que amo


Pode vir de manso ou de repente.

Que venha de qualquer jeito.

Aquele que eu amo,

Tece em mim essa paixão, desmedida.

Aquele que amo, me faz bela

Como a nenhuma outra.

Aquele que amo, desperta meus sorrisos,

Até os que não quero colhidos.

Aquele que amo, me resgata das tormentas,

E me faz navegar em águas calmas.

Aquele que amo, fere tão profundamente,

Que alivia todas as dores adormecidas.

Aquele que amo, acalma minha pressa.

Quando avanço pelas frestas dos meus abismos.

Aquele que amo, é meu ponto final.


Ouvindo: A Festa

Foto: Augusto Peixoto

3.2.09

Sem Saber Se o Querer é Querer



No dia seguinte a despedida,
Ficou um gosto de querência
Um vazio estático
Paralisado,
imóvel,
firme,
em repouso.

Nem mais um dia,
Talvez meio dia
E já tinha passado
Decorrido,
Findo;

Hoje me vieste por acaso,
Sem saber se o querer
Era um querer
Ou quase querer
E eu percebi
O quanto andava saudosa
Sem saber a saudade
Da sensação de índole pacífica,
Serena e mansa
Que as tuas palavras me trazem
Sempre que as recebo,
Sem saber se as quero.

Palavras cultivadas
Nem sempre em solo fértil,
De poda fácil,
Abrigadas das intempéries
Mas sempre tão bem vindas
Em sobra do som
Da existência insistente,
No desejo da vida
num sopro leve da calmaria
De sentir a palavra branda,
e reconhecer,
Sem dilacerar os sentidos,
E sorvi em goles pequenos
Apenas para matar a sede
Não a perene,
Antes a que não se sabe sede

2.2.09

Mulher na Cama, (é) Chama



Mulher na cama

Chama seu homem

Como a vela dresfraudada

De uma nau que desliza

Em lençóis brancos

Como mar de espumas

Como o mundo secreto de um jardim

De flores sobre arcadas

Que sombreiam caminhos

Como raios de sol

Que lambem montanhas

Aquecem vales

Iluminam grutas abissais


Mulher na cama

Quando chama,

É chama de seu homem

12 anos atrás..)

Escrevi esse texto há anos atrás, ia para o lixo não fosse a leitura mais atenta. O que mudou de lá para cá? A resposta fica para o final....