Deixar ir

Precisei desfazer o nó 
para te dar a paz que precisavas. 

Não existe um único momento 
do meu dia em que não sinta falta 
das nossas conversas, 
de te ouvir falar e rir,  
de sorrir sempre que um pensamento 
meu voa até ti.

Aos poucos vou recolhendo 
a parte de mim que se partiu 
para voltar a ser inteira.

Sigo te desejando sorte e muito amor,
perto, longe, onde for;
porque você me salvou sem tentar 
e foi esse amor em que mais confiei.

Nunca se esqueça: 
se desisti não foi por covardia,
e mesmo que não pareça, 
ou não acredites, 
foi meu grande gesto de amor.

Sacudir a poeira dos sonhos

A alegria de saber 
que você existe 
faz-me forte para suportar 
a tristeza de sua ausência. 

Um pensamento me acolhe 
todas as noites em seus braços ausentes 
e sopra um acalanto sobre meu coração 

 Essa música que chega e me abraça 
é todo o amor que resta entre nós 
e está comigo.  

E todos os dias amanheço 
sacudindo a poeira dos sonhos 
de um amor imaginado.

Recomeçar

Você pensa que nunca vai esquecer, 
e esquece. 
Você pensa que essa dor não vai passar, 
mas passa. 
Você pensa que tudo é eterno, 
mas não é. 
De repente não existe mais nada  
e você entende que não se pode perder 
o que nunca teve. 

O que fica é a sensação de plenitude, 
a gentileza das palavras fáceis, 
o sono tranquilo, 
os dias coloridos. 

Então você resgata o seu eu 
que andava perdido na confusão do outro.

Certos lugares

 

Voltei  aos lugares onde um dia fui feliz. Não quer dizer que não o seja, mas trata-se de uma felicidade onde não cabia maldade e éramos todos felizes num estado natural e livre do peso do mundo e da vida.

Percorri tantas vezes esses caminhos até os saber embrenhados e fundidos na minha própria essência. 

Penso nas pessoas que caminham por esses mesmos caminhos, será que estão atentos aos detalhes do percurso ou caminham pela força do hábito?

Será que eles entendem a magnitude dessas esquinas como eu as percebo?  Será que valorizam cada passo e o espaço que ocupam? 

Os cheiros no ar? 

Valorizam os detalhes que compõe a paisagem? 

Acho que não!

O que para eles faz parte do dia a dia, para mim é uma nota a ser guardada na memória  como um bem precioso de vida pulsante. 

Sorvo cada instante como se fosse meu último suspiro.


Post Iscriptum: Há mais de 50 anos perambulo por esses lugares e me entristeceu ver essa esquina cada vez mais deteriorada em abandono.”

Música

 


Na tua boca
brilha a lua,
ouço jazz

O teu abraço é ninho
onde quero me embalar

em blues...


Em tuas pernas
seguir teus contornos
sendo samba...


O verde vai virar azul

irei do norte para o sul,

leste,

oeste,

onde me arremeta

sem peso,

sem medida

num arrastão de MPB...


Do teu corpo

quero um tango,

da tua alma
serei cantiga de ninar...



Em algum lugar

Não sei!
Talvez preguiça ou alguns cansaços, 
porque falar de onde me escondo 
sempre consome  mais do que desejo
e logo fico aflita como bicho acuado, 
andando de um lado para outro. 

Hoje nem o verso, nem a música 
e muito menos o te imaginar me trouxeram paz. 
Ando cansada, tenho pressa, 
preciso de um lugar onde eu possa me esconder 
e que algumas banalidades possam me alcançar, 
o quanto antes... 

Não gosto de me sentir nua, 
não falo da nudez do corpo,
e sim a da alma e consciência.

Não se trata de pudor, ceticismo ou aflições, 
o revelar dá algum trabalho 
e depende de alcançar as intenções, 
de perceber e compreender
livre de julgamentos.

O não saber como carregar a adaga 
que atravessa e sangra
esse cansaço, me despedaça. 

Quem pode traduzir a minha agonia? 
Talvez só eu, mas estou tão cansada. 
Queria um porre, chapar a cara, 
dormir o sono sem sonhos... 

Mas o final desta conversa será só para você, 
em algum lugar, enroscada no teu abraço, 
no tempo futuro conjugado no plural

Fugaz

 Mesmo deposto o beijo

nos lábios sem descanso
debaixo dos lençóis
das nossas manhãs,
guardo as lembranças
com sabor de hoje.

És beijo perdido no tempo,
Fugaz...

É preciso

 É preciso ver,

o ver de olhar
e fartar olhos e coração.

É preciso amar,
o amar de entregar
e fartar corpo e alma

É preciso consumar,
o consumar de saciar
e fartar por dentro
e por fora,
desfazendo nós contidos
de desejo aflito.

Amantes insones,
lavados em sal,
ardendo e perdendo o ar
fartando-se em plural
de tanto amar...

Tão perto de mim

 Não te procurava,

e te encontrei.

Quem era distante
e agora tão perto se encontra de mim?

Vieste arrematar um verso de amor,
colher um segredo que agora sorri,
arrancar confissões da alma
que me levava adormecida em total recolhimento.

Te matei mil vezes

e outras mil voltaste a me assombrar.

Voltei a viver mil vezes

presa dentro de mim mesma.

 

Sangrei,

sequei,

morri um pouco a cada dia

da saudade que me consumia.

 

Queres metades,

quero inteiro.

Enquanto te despedes,

eu me desnudo


Quem é você
que mesmo distante,
tão perto de mim?



Canção de Morfeu


Há uma brisa que me roça o pescoço 
nesta noite cheia de cansaços
num aflorar doce e perfumado 
solto pelas palavras que os olhos não viram 
nem os ouvidos ouviram. 

Quando sentada diante desta página fria 
transporto-me até onde te escondes
e o beijo que te mando não cabe aqui, 
vai com o vento! 

Desejo-te, 
agarra-me, 
danem-se as consequências 
que as culpas dos desatinos sejam minhas. 

Estou aquém e além, 
quero tudo como queres, 
a culpa é minha se as almas não se tocam 
mas fundem-se, 
explodem e enchem as trevas de luz. 

É disso que sou culpada 

Os relâmpagos rasgam os céus,
onde as estrelas andam ciumentas da tua voz,
não semeie dúvidas, 
ajude-me a encontrar a certeza que está perdida em mim. 
que existe num poema a dois...

Não resta ninguém

Uma recordação inexistente, 
pedaço de nada que flutua, 
não resta ninguém... 

Vales e montanhas 
por onde quero seguir
para abraçar o mar, 
afundar antes de tocar o horizonte 
e quem sabe descansar...

Deixar ir

Precisei desfazer o nó  para te dar a paz que precisavas.  Não existe um único momento  do meu dia em que não sinta falta  das nossas conver...