31.7.10

Coragem


CORAGEM É O QUE SOBRA EM MIM.

Poderia te dar estas palavras por palavras num tom tão suave quanto os lençóis que te cobrem o corpo e que sempre acabam aos pés da cama pela manhã.
Sentirias apenas a ternura do tom, sem nem mesmo tocar na alma que escapa destas idéias e de seus lugares. Não idéias, rascunhos vastos que nunca findam em arte final.

Não sei se estou ternura, ando instável e de humores delicados. Ando reticente de menos e calma demais. Mesmo que o sono não chegue, as idéias se tornam mais mansas e minha tranqüilidade para lhe adentrar serve como cantiga de ninar.
São tantas as que costumo murmurar, nem saberia qual escolher. Isso é sinal de perigo, eu sei.

Que assim seja.

Passando num passo não dado vou além dos sonhos, numa liberdade presa dentro de mim. E já não me importo que na realidade não sejas; e não és. Mas se os sonhos podem tirar meus pés do chão e me remeterem a vida, às vezes posso permitir que assim seja.

No fim não te sinto, e bem na beirada desse fim vejo meu egoísmo, quando a inspiração toma a mesma fonte, pareço igual e nada levo de ti.

" talvez comunal, mas na minha consciência inútil à estação - um espaço suficiente pra te atingir"

E quando nada levo, fora do acolhimento, comigo ficas pela metade porque não saberia o que fazer se fosses inteiro.
Olhando para minha colheita vejo tuas raízes já fundas e no vento, tuas palavras que ordenadas fazem da escrita a minha inspiração que muitas vezes desanda.

-Serão as minhas raízes que confundo?

E muda com a beleza dessa capacidade de se moldar e adapar, constato o que faz peso no peito quando falo, descubro que a voz é o parto das palavras desgastadas e acabo de fecundar um novo embrião, repetido ou adivinhado, mas sempre servido à gosto.

Enquanto desperto outros prazeres, sinto de leve, tão discreta, mas já dominante aquela sedução cheia da vaguidão do sono .

Vaga como estou agora, pois cheia das palavras preenchidas de ti me perdi quando vinha até o plano de escrever, já te trazia escorrendo pelos dedos . Sou tão preguiçosa e volúvel que logo me enfado, e tudo tem gosto de mormaço que nem mesmo uma "siesta" poria termo.

Quando mais mansa, a lentidão me expressa detalhes e sinto que a água que sobe da correnteza não me afogará se no fluxo de tal eu mergulhar.
Então estou à margem de mim mesma, colhendo a realidade que impulsiona a ternura do sono.

Mas não é esta a hora. O dia reserva outras profundezas e na espera estou muda, só murmurando palavras desconexas que em algum momento devem alcançar o entendimento.

Que loucura essa que faz com que os dedos corram alinhavando tudo que flui, ora mansamente, ora frenétcamente e não consigo um vislumbre de onde irei parar. E antes e sempre se o que vou despejando fará sentido, terá forma ou algum entendimento.

Fique tranqüilo, até quando, pouco a pouco a maré sobe, eu ainda murmuro a cantiga de ninar e jamais terás insegurança na vaguidão mansa do teu próprio lugar.
Com minha alma, meu sono e o meu velar nas palavras ocultas que se quer ousaram se mostrar, nós nos fizemos um pouco menos arredios naquela hora, ou naquele lá, para quando então foi e virá.

-Será?

Meus dedos já estão cansados, as dores desse parto já são passado de onde parto da parte de mim que entreguei a ti.

Que me venha esse sono tão desejado, o vazio já embaralha as letras que vão sendo apenas letras, despidas de palavras e despedidas de nós. Ao acordar voltarei a ser eu, assim seja porque quero e não porque devo.

Se mais lúcida eu reler este texto e conseguir entender o que me foi soprado aos ouvidos e chicoteados em meus dedos, sou capaz de deletar.

Vivas ao Crtl Z.

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12 anos atrás..)

Escrevi esse texto há anos atrás, ia para o lixo não fosse a leitura mais atenta. O que mudou de lá para cá? A resposta fica para o final....